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Quarteto Fantástico: Entre o Passado e o Possível

O contexto antes do Quarteto Fantástico

A década de 1960 foi uma época complexa para o mundo. Por um lado, vivíamos uma revolução cultural na música, no cinema e na televisão. Por outro, o cenário político era marcado pelas tensões da Guerra Fria, com os Estados Unidos e a União Soviética disputando sua hegemonia global. A Guerra do Vietnã ganhava mais espaço na mídia, o governo americano decidia iniciar sua corrida espacial, provar sua superioridade e desafiar seu rival.

Nesse mesmo período, segundo a lenda, uma partida de golfe entre dois editores das maiores empresas de quadrinhos dos Estados Unidos foi palco de uma conversa sobre projetos — enquanto se vangloriavam de seus acertos e erros. Os quadrinhos viviam a chamada Era de Prata: uma tentativa da indústria de aproximar seus personagens — principalmente os super-heróis —, antes vistos como deuses poderosos, aos leitores mortais e consumidores comuns. Os heróis passaram a lidar com preocupações mundanas, como empregos e aluguéis, além de enfrentarem inimigos mais complexos, o que levou à criação de superequipes — uma forma simples de mostrar que ninguém salva o mundo sozinho.

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A criação do Quarteto

O grande representante desse período era a Liga da Justiça, com seus ícones como Superman, Batman e Mulher-Maravilha, que geravam lucros inimagináveis para a editora DC Comics. Ao perceber esse sucesso, Martin Goodman encomendou a Stan Lee uma equipe de heróis moldada nos padrões dos quadrinhos da época, capaz de alcançar o mesmo êxito comercial.

Mas havia um problema: que heróis usar?

A Marvel, até então, não tinha um panteão consagrado. Heróis como Capitão América não eram publicados regularmente desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Então, junto ao rei dos quadrinhos, Jack Kirby, Stan Lee criou quatro novos personagens — mas, desta vez, eles seriam uma família. Inspirados pelo sucesso da DC em revitalizar o Flash, Lee teve a ideia de reaproveitar o primeiro personagem da editora: o Tocha Humana. Como base, “Desafiadores do Desconhecido”, criado e ilustrado anos antes por Kirby, o núcleo de quatro pessoas e a temática de ficção científica foram definidos.

Assim nasceram Reed Richards, o Senhor Fantástico — líder e patriarca da equipe, um gênio obcecado em estudar os efeitos de uma tempestade de raios cósmicos antes das nações rivais —; Ben Grimm, o Coisa — seu melhor amigo e ex-militar; Sue Storm, a Garota Invisível — sua noiva; e Johnny Storm, o novo Tocha Humana — irmão de Sue. Eles embarcam juntos em uma nave experimental e, após o acidente, ganham seus poderes.

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Impacto Cultural do Quarteto fantástico

A partir daí, as histórias misturariam ficção científica, romance, mistério e seriam, acima de tudo, um retrato moderno dos Estados Unidos.

A família fantástica enfrentaria, em sua origem, o Toupeira — líder de monstros subterrâneos que desejavam destruir a superfície — e, nas edições seguintes, inimigos como os alienígenas espiões Skrulls e o vilão de uma nação fictícia do leste europeu: o Doutor Destino. Além dos paralelos com o mundo real, os heróis não possuíam identidade secreta e eram celebridades em seu universo. Demorou algumas edições até que ganhassem seus tradicionais uniformes azuis.

O sucesso do Quarteto Fantástico levou os personagens aos desenhos animados, sendo o primeiro produzido pela Hanna-Barbera. No cinema, quase chegaram às telonas nos anos 1990, com um filme peculiar jamais lançado oficialmente (mas facilmente encontrado na internet), além das versões modernas com Jessica Alba como Mulher Invisível e o reboot de 2015 com Michael B. Jordan como Tocha Humana.

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Atualizando mitologias em um novo cenário cultural

Mas o mundo atual é muito diferente daquele em que o Quarteto foi concebido. Suas histórias e antagonistas eram reflexos diretos dos dilemas dos Estados Unidos. Isso levanta a questão: faz sentido um Quarteto Fantástico hoje?

A Marvel está prestes a lançar uma nova versão, agora com Pedro Pascal como Reed Richards. O filme, ao menos nos trailers, mergulha em uma estética retrofuturista e reforça o aspecto familiar. Porém, o verdadeiro diferencial do Quarteto no passado não foi a estética, e sim a originalidade. Tantos foram os que tentaram copiar e poucos tiveram sucesso.

Apesar de particularmente adorar os personagens — são meus favoritos da Casa das Ideias —, reconheço que são difíceis de adaptar, sobretudo por sua galeria de vilões. Antes estereótipos da guerra, da espionagem e da busca por poder, hoje, em um mundo globalizado, essas representações podem soar caricatas ou até ofensivas. A relação entre Reed e Sue, por exemplo, pode parecer ultrapassada, já que a personagem feminina levou décadas para ganhar voz e protagonismo. Nas primeiras versões, Sue era retratada apenas como a dona de casa que desaparecia em sinal de perigo.

Como fã, torço muito para que o filme dê certo e a família fantástica finalmente ganhe uma adaptação digna. Mas, como crítico e amante do cinema, tenho meus medos e incertezas quanto à abordagem — especialmente considerando que, nos últimos anos, a Marvel parece mais preocupada em produzir quantidade do que qualidade.

Jack Kirby afirmou ter dado o nome do pai ao personagem Coisa e o da filha à Garota Invisível. Stan Lee disse que os personagens representavam tudo o que ele sempre quis criar. Embora seja difícil traduzir esses detalhes para o cinema, os realizadores conseguem transmiti-los quando criam com cuidado, coração e emoção.

Mas e você? Está ansioso para o novo Quarteto Fantástico?

Hugo Montaldi

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