Os anos 2000 trouxeram muitos filmes icônicos para o cinema, e alguns são reverenciados até hoje. Miss Simpatia é um deles. Dirigido por Donald Petrie e estrelado por Sandra Bullock, o filme foi amplamente criticado em seu lançamento por ter um roteiro fraco. Mesmo assim, rendeu à atriz uma indicação ao Globo de Ouro de Melhor Atriz de Comédia ou Musical.
Bullock interpreta uma policial do FBI durona e masculinizada, que precisa se disfarçar para impedir um atentado terrorista em um concurso de Miss Universo. Ao longo da trama, ela se torna cada vez mais feminina, porém, sem deixar de ser durona.
Na época de seu lançamento, o filme foi considerado a terceira maior bilheteria americana, arrecadando mais de 212 milhões de dólares em todo o mundo. Atualmente, ele continua presente em muitos serviços de streaming e é considerado um clássico da televisão.
Assistir à Miss Simpatia hoje é mais do que uma experiência de comédia; é ver uma transição de Hollywood, principalmente na forma como as personagens femininas são abordadas. Se nos anos 1980/1990 as mulheres eram vistas pela indústria cinematográfica americana, principalmente, como interesses românticos, Miss Simpatia apresenta uma personagem que é, antes de tudo, uma policial durona que consegue resolver qualquer problema com as próprias mãos, mesmo que a história privilegie mais a comédia do que a ação em si.
Um ponto a destacar é como a visão sobre o filme mudou ao longo dos anos. No lançamento, ele tinha a intenção de promover uma personagem feminina forte e independente. Hoje, é possível encontrar problemáticas em sua trama, principalmente pelo fato de a personagem precisar se modificar para realizar a missão, como apontado pela jornalista Ana Beatriz Rodrigues em sua crítica para o portal Persona Unesp em 2021:
“Histórias em que as mulheres precisam se transformar para chegar em algum objetivo ainda são comuns. Muitas crianças cresceram acompanhando séries e filmes em que a protagonista mudava completamente seu visual para conquistar o mocinho ou algum sonho. Um dos nomes mais comuns que retratam essa narrativa é O Diário da Princesa, o filme que mostra a garota Mia, de 15 anos, passando por uma transformação radical para se tornar princesa de seu país. Ela abandona seus óculos e alisa seu cabelo para essa nova fase.
Esse discurso é extremamente perigoso para a formação de garotas na nossa sociedade. E a não correspondência com os padrões pode trazer consequências em diversos setores na vida do público. É, mais uma vez, o papel da Arte transmitir uma mensagem que seja saudável. Miss Simpatia possui alguns deslizes, mas não podemos assistir a filmes mais antigos com um olhar anacrônico.”
Mas e hoje? Vale a pena assistir à Miss Simpatia?
A resposta correta para essa pergunta é: depende. O filme continua sendo divertido e possui uma mensagem forte, mesmo que hoje em dia seja vista como apresentada de forma errada. Bullock, de fato, está divertida na obra, e o longa conta com participações especiais e um elenco de apoio invejável, como o eterno capitão Kirk, William Shatner, que consegue cantar enquanto um desastre acontece (pura comédia). Por outro lado, muitas cenas se tornaram incômodas, principalmente como o filme explora os clichês do gênero e como as discussões e falas apresentadas ao longo da história se tornaram problemáticas atualmente.
Miss Simpatia ainda é um filme divertido, porém, é um produto de sua época. Como estudo de caso ou entretenimento vazio de fim de semana, o longa continua sendo excelente. Agora, se seu interesse é buscar reflexões sobre a vida ou mesmo a sociedade, bem, existem filmes melhores.
