Fahrenheit 451 é considerado um dos clássicos da ficção científica. Desde o lançamento do livro em 1953, a obra de Ray Bradbury é usada como meio para entender e discutir regimes autoritários e a importância do conhecimento. O romance foi adaptado para o cinema duas vezes, sendo a mais recente o filme de 2018, com Michael B. Jordan, e a versão de 1966, feita pelo mestre do cinema François Truffaut, a qual iremos abordar.
Em um futuro distópico, um regime totalitário proíbe livros e toda forma de escrita, alegando que tornam as pessoas infelizes e improdutivas. Um grupo de bombeiros recebe a missão de encontrar todos os livros e queimá-los. Porém, um desses bombeiros começa a questionar os motivos, o que o leva a secretamente roubar livros e ler.
Truffaut por Completo: Mostra de Cinema Exibe Filmes do Mestre
A visão de Truffaut: Técnica e experimentação
Este foi o primeiro filme em cores de Truffaut e o único em inglês. O filme mistura técnica com experimentação. Em seus primeiros minutos, o longa se inicia com os créditos sendo narrados, uma forma de fazer o espectador se sentir como se vivesse nesse mundo onde a história se passa. O filme utiliza cortes bruscos na edição para revelar a brutalidade dos bombeiros, ressaltando a crueldade do mundo, mesmo sem cenas de violência ou sofrimento.
O filme ainda tem como destaque a escolha da atriz Julie Christie, que interpreta duas personagens distintas na trama, sendo ambas grandes opostos tanto em personalidade quanto em significado para a história. Porém, o que mais chama a atenção ao longo do longa é como Truffaut escolheu tratar a transformação do personagem Montag. Ao ler seu primeiro livro, ele se torna obcecado por conhecimento; as imagens retratam essa transformação como um vício, intensificando o impacto e a reflexão final.
Outro ponto marcante no filme é a música, feita pelo lendário compositor Bernard Herrmann, responsável pela trilha sonora de clássicos como Cidadão Kane. As melodias orientam emoções como medo e empatia nos momentos certos e, mesmo com efeitos especiais datados, mantêm a tensão dramática essencial necessária ao espectador. O longa mostra a televisão como tecnologia de manipulação e controle que o governo autoritário utiliza. O filme não diz essa mensagem explicitamente na trama; em vez disso, os ângulos e a representação visual dos acontecimentos a deixam implícita. É um domínio de técnica e, principalmente, de linguagem do cinema, que poucos diretores conseguem ter.
Conclusão
Embora muitos considerem o filme de Truffaut mediano, Truffaut aproveitou a história de Fahrenheit 451 e, com as devidas modificações, transportou sua crueldade e brutalidade para as telas.. Não à toa, o longa cada vez mais ganha adeptos e se torna um clássico do cinema. Truffaut abordou a censura e o poder do conhecimento continua relevante, provando que, mesmo décadas depois, sua obra ainda ressoa e se mantém essencial para a reflexão sobre a liberdade e a importância da arte.
