Baseado em uma história real, “As Polacas” destaca os desafios da imigração judaica para o Brasil no início dos anos 1867, enquanto reflete sobre questões pertinentes à sociedade e aos direitos da mulher.
História: Fugindo de seu país em guerra, Rebeca (Valentina Herszage) viaja com seu filho para encontrar seu marido no Rio de Janeiro. Porém, chegando na Cidade Maravilhosa, ela descobre que ele havia falecido. Desesperada, busca a ajuda de um aparente bom samaritano, que se revela, na verdade, um dono de bordel envolvido em tráfico de mulheres.
Pontos Positivos: Falar de “As Polacas” é falar de uma parte da história do Brasil que muitos tentam ou preferem ignorar. Um período histórico em que mudanças sociais caminhavam a passos curtos, e a falta de administração do estado permitia que corrupções sorrateiras pairassem nas ruas daquela sociedade. Neste contexto, o filme aborda uma desilusão: uma mãe que, em busca de uma vida melhor, acaba por se ver refém de alguém que usa da fé e dos costumes de seu povo para encantar e, posteriormente, chantagear. E que, ao buscar ajuda, acaba sendo barrada por artimanhas de um representante do estado conivente. Esta dualidade de história permite que a dupla de protagonista e antagonista, interpretados por Valentina Herszage e Caco Ciocler, entregue verdade e, principalmente, agonia em seus personagens, garantindo que o texto de seus diálogos pareça natural e coerente com o que as cenas e o universo estabelecido pelos cenários e figurinos necessitam. Outro ponto a se destacar é o uso de imagens de arquivo para contextualizar a época e o período. Visto se tratar de uma produção com poucos recursos, o filme aposta em poucos cenários e locações, focando a imersão no texto e no desempenho dos atores principais, uma decisão assertiva.
Pontos Negativos: Se o elenco principal é o foco primário do filme, o mesmo não se compartilha ao elenco secundário, que apresenta personagens e atuações caricatas, beirando a um estereótipo televisivo. Principalmente se tratando do personagem mirim, que deveria causar empatia no espectador, mas acaba por ser simplesmente irritante. Outro ponto negativo é o excesso do uso de cenas que utilizam o conceito de “câmera tremida” a fim de causar tensão, visto que as próprias cenas com iluminação sutil e a interpretação dos atores já seriam mais do que suficientes para atingir o resultado, fazendo com que, na tentativa de pecar pelo excesso, o filme perdesse impacto em cenas que poderiam ser chocantes.
Conclusão: Apesar dos pontos negativos, o filme ainda consegue ser primoroso e uma aula não só de cinema, como também da história negligenciada do Brasil. Um lembrete de que, para continuarmos evoluindo como nação, jamais devemos reprisar os erros do passado. Um filme belo, para se ver no esplendor da sala de cinema.