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Ainda Estou Aqui: Sucesso e Desafios do Cinema Brasileiro

Como o Filme Ainda Estou Aqui de Walter Salles Pode tansformar o Panorama Audiovisual no Brasil e Inspirando Mudanças Estruturais Necessárias para o Crescimento do Setor

Fernanda Torres recebeu o prêmio Globo de Ouro de melhor atriz dramática por seu papel como Eunice Paiva no filme Ainda Estamos aqui. Ao longo deste texto, vamos discutir o sucesso do filme e entender principalmente os desafios do Cinema brasileiro, e como ele pode evoluir.

Sucesso e Reconhecimento de Ainda Estou Aqui

O filme de Walter Salles já participou de mais de 50 festivais e, até o momento, mais de 3 milhões de brasileiros ao cinema. Baseado na história de Eunice Paiva, uma mãe que tem sua vida transformada quando seu marido é levado pelas autoridades da ditadura militar. O longa aborda a jornada de Eunice em busca de descobrir o paradeiro de seu marido, que nunca retorna para casa. A obra explora questões políticas e históricas, relembrando e criticando o passado do Brasil.

Controvérsias de Ainda estou aqui e desafios no Setor Audiovisual

Apesar das críticas positivas, prêmios e ampla divulgação pela mídia brasileira, é fácil encontrar comentários questionando a veracidade do sucesso do filme, principalmente na internet.

“Dizem que mais de 3 milhões de pessoas assistiram ao filme lacrador Ainda Estou Aqui. Eu não conheço ninguém que assistiu ao filme”, comentou um usuário do X (antigo Twitter).

Comentários como este não são exclusivos do filme da Globoplay, mas refletem uma tendência em relação aos filmes brasileiros, um problema estrutural do setor audiovisual.

Segundo uma pesquisa do Instituto Boca a Boca, divulgada pelo Portal Exibidor, O público que vai ao cinema no Brasil representa somente 37%. Numero inferior ao registrado antes da pandemia que na época, 80% das pessoas declararam frequentar regularmente. Já a pesquisa da ABRAPLEX (Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas e Operadoras de Multiplex), apontou um interesse de apenas 1,8% do público por produções nacionais. Começamos então a entender por que Ainda Estou Aqui, mesmo com sucesso de público e crítica, parece ser um fenômeno restrito ou uma “bolha”.

Quem consome Cinema?

A palavra “bolha”, inclusive, talvez seja a que melhor defina o cinema nacional atualmente. O Brasil possui 3.509 salas de cinema em funcionamento, mas estas estão concentradas principalmente em estados como Rio de Janeiro e São Paulo. São Paulo, por exemplo, concentra 1.100 das 3.509 salas disponíveis em todo o país, o que significa que apenas 7% da população tem de fato acesso a obras como Ainda Estou Aqui. Isso, claro, considerando que o filme será exibido em todas essas salas, o que não é a realidade da maioria das produções nacionais.

Outro ponto importante é entender o que representa o mercado de cinema no Brasil. Segundo o Painel de Indicadores do Mercado de Exibição de 2024 da ANCINE, analisando 313 filmes nacionais, o faturamento nas salas de cinema foi de R$ 251,04 milhões. Em comparação, os filmes estrangeiros arrecadaram R$ 2,23 bilhões no mesmo período. Ou seja, mesmo com poucas salas e com acesso restrito, existe uma desigualdade, em termos de espaço de tela e no interesse do público.

Leia também: FERNANDA TORRES VENCEU O GLOBO DE OURO!- OSCAR VEM AI?

Perspectivas e Importância de Investimentos

O sucesso de Ainda Estou Aqui se torna ainda mais interessante de analisar, considerando que muitos filmes brasileiros acabam sendo rapidamente esquecidos, disputando espaço nos catálogos dos serviços de streaming. Uma vez nos serviços enfrentam uma nova competição: a vastidão de títulos disponíveis, geralmente sem promoção adequada.

Por isso, produtores pedem por uma forma de garantir que, mesmo com a redução no número de salas, as produções nacionais possam competir em igualdade com as estrangeiras. Em 3 de janeiro de 2025, foi publicada no Diário Oficial a Instrução Normativa nº 172/2025, que estabelece regras para a exibição de filmes nacionais e assegura espaço e horários de exibição após as 17h (horário de pico nos cinemas). Medidas como essa são essenciais para promover uma competição justa. Países como a Espanha destinam 25% das salas para filmes da União Europeia. A Coreia do Sul reserva 73 dias do ano exclusivamente para produções coreanas. Até mesmo a Argentina implementou políticas semelhantes por anos.

No entanto, apesar de importante, essa discussão sobre cotas de tela desvia o foco do principal problema: a falta de acesso do público ao cinema. Destinar horários nobres para filmes brasileiros é um começo, mas o cinema nacional só se desenvolverá quando mais pessoas tiverem acesso e, principalmente, quando aumentar o interesse por produções nacionais. Para isso, será necessário investimento e, sobretudo, interesse público e privado no tema. Precisamos enxergar o cinema e a indústria audiovisual não apenas como arte, mas como negócio.

Olhando o mercado Audiovisual

O cinema faz parte da indústria audiovisual, que abrange, além do cinema, televisão (aberta e fechada), streaming, videogames, etc. Esta indústria gera atualmente R$ 24,5 bilhões por ano diretamente e, se levar em conta os lucros indiretos, pode alcançar R$ 56,8 bilhões.

Um município que investe em produções audiovisuais por meio de editais públicos ganha lucros indiretos da produção e promove sua cidade.

Um exemplo é a Rio Filmes, que, com seus investimentos, tornou o setor o 10º maior e o 14º que mais arrecada no município.

Em 2019, o setor gerou mais de 700 mil empregos, e na época o setor representava menos de 1% do PIB brasileiro. Considerando que é uma atividade que existe majoritariamente no eixo Rio-São Paulo, isso demonstra um potencial de crescimento muito otimista para os próximos anos. Mas, para isso, primeiro, precisa-se construir um público consumidor que não somente goste, mas aprecie o cinema nacional. Talvez a forma mais simples seja fazer valer a Lei 13.006/2014.

Fomentando o cinema

Criada em 2014, a lei tem como intuito exigir a exibição de no mínimo duas horas de cinema brasileiro nas escolas como atividades complementares. A Ancine, em parceria com o Ministério da Cultura e da Educação, poderia fornecer às escolas públicas filmes, longas e curtas-metragens brasileiros pré-selecionados, para apresentar a arte cinematográfica nacional para crianças e adolescentes. Porém, é importante destacar que esta lista de filmes deve ser atualizada constantemente para garantir que novos filmes sejam conhecidos pelos estudantes.

Outra forma de formar público seria implementar, em conjunto com as secretarias de cultura, salas de cinema de baixo custo e ingressos populares. Assim, ampliando o número de municípios que não têm acesso às salas de cinema e claro gerando empregos.

Com mais salas de cinema e do interesse do público em filmes nacionais, novos produtores fora dos grandes centros teriam interesse em produzir seus filmes. O que significa mais impostos para os municípios e, consequentemente, mais propagandas para as cidades, que poderá aumentar o turismo e assim por diante.

Se a iniciativa privada investir em produções e distribuição, o potencial de crescimento da indústria cinematográfica brasileira é ilimitado.

Conclusão e o que podemos refletir sobre Ainda Estou Aqui.

O filme de Walter Salles, Ainda Estou Aqui, pode não ser considerado o melhor filme brasileiro, mas é certamente um dos mais importantes. Este filme permitiu que Fernanda Torres se tornasse a primeira brasileira a vencer um Globo de Ouro. Se Ainda Estou Aqui ganhar prêmios adicionais, como um Oscar, ele trará mais visibilidade internacional para o mercado cinematográfico brasileiro. Este é o momento crucial para que o poder público e os empresários brasileiros reflitam:

Qual o tamanho da indústria cinematográfica brasileira que desejamos para o futuro do Brasil?

Fontes da matéria.

No Brasil, há uma sala de cinema para cada 59 mil habitantes; nos Estados Unidos, a proporção é de 1 para 8,5 mil – revista piauí

Qual o tamanho do setor audiovisual brasileiro?

Brasil alcança marco histórico no cinema, com 3.509 salas funcionando | Radioagência Nacional

Distribuição de salas de cinema por bairros e municípios do | Cultura

Sucesso de crítica e bilheteria, ‘Ainda estou aqui’ disputa Globo de Ouro e Oscar | Fantástico | G1

Por que o cinema nacional é ruim? – O Livre

Portal Exibidor – Apenas 34% dos brasileiros vão ao cinema ao menos uma vez por mês atualmente, diz estudo

Dados do Setor | ABRAPLEX

ANCINE publica Instrução Normativa sobre Cota de Tela — Agência Nacional do Cinema – ANCINE

AIR_VF2_ostensivo_assinado_assinado_1_assinado_assinado_assinado.pdf

Brasil atinge número recorde de salas de cinema

Painel Indicadores do Mercado de Exibição — Agência Nacional do Cinema – ANCINE

O valor ‘exorbitante’ que o setor audiovisual inje… | VEJA

Economia do Audiovisual Carioca

Hugo Montaldi

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