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A DURA REALIDADE: O Lado Oculto de Ser Criador de Conteúdo

O Desafio da Criação de Conteúdo

Criar conteúdo para a internet é fácil; ser criador de conteúdo é difícil. Na verdade, essa frase pode ser aplicada a qualquer profissional criativo, mas aqui quero conversar sobre nós, os criadores de conteúdo digitais.

Antigamente, quem quisesse trabalhar com criatividade, principalmente no audiovisual, precisava recorrer a empregos na publicidade, atuar em uma emissora de televisão ou ser um dos poucos privilegiados no mercado do cinema brasileiro. Hoje, com a internet e as redes sociais, basta um celular para estar na metade do caminho de se tornar um possível criador de conteúdo, uma tarefa que, à primeira vista, parece simples. Basta ter uma ideia, gravar, escrever um título ou legenda interessante, publicar na rede social e, com sorte, ver o conteúdo ser compartilhado por desconhecidos. Inúmeras notificações surgem no telefone, com comentários de admiradores e, claro, alguns haters. Dependendo do impacto e da proporção, uma emissora de TV local pode convidá-lo para uma entrevista e, pronto, sua vida muda. Infelizmente, essa não é a realidade da maioria dos criadores, provavelmente 90% dos profissionais que atuam nessas trincheiras digitais.

A realidade dos criadores

A maioria dos criadores que conheço começou porque queria falar sobre determinado assunto, interagir com uma comunidade ou se inserir em um círculo exclusivo. Viram na criação de conteúdo uma forma de atingir seus objetivos e, como no exemplo anterior, consideraram os números fornecidos pelas redes sociais uma chancela de que estavam no caminho certo. O problema surge quando um vídeo fura a bolha e atinge um público diferente do esperado. A situação se agrava quando o conteúdo envolve um assunto que o criador não domina ou não tem interesse em continuar abordando.

Em 2024, fui convidado, por conta do meu canal no YouTube, a cobrir a Mostra Clint Eastwood no Estação Net Botafogo, no Rio de Janeiro. O evento foi fantástico, e tive a oportunidade de assistir, em uma tela gigante, à trilogia dos dólares, clássicos filmes de Sergio Leone. Como de costume, gravei três vídeos sobre o evento. Desses três, dois furaram minha pequena bolha de público, atraindo fãs de faroestes que pediam mais vídeos sobre o gênero. O problema? Eu não sou tão fã de filmes de velho oeste, apesar de gostar de vários clássicos. Refleti sobre o assunto e decidi que, se seguisse por esse caminho, não seria verdadeiro com o público e nem comigo mesmo.

A consequência foi brutal: após mais de três semanas sem novos vídeos sobre faroestes, o alcance do meu canal diminuiu drasticamente. Perdi alguns dos inscritos novos, como já esperava, mas o impacto foi maior do que imaginava. Se antes meus vídeos tinham uma média de 100 visualizações antes dos vídeos da trilogia, agora, se chegassem a 20, era muito. Isso ocorre devido a um fator das redes sociais – não exclusivo do YouTube –, o chamado algoritmo.

O impacto do Algorítimo

O algoritmo é uma força matemática e desconhecida que, com base nos gostos da audiência, escolhe o que verá cada usuário em sua plataforma. Quando um criador posta algo que atrai público, a plataforma espera que ele continue abordando esse tema. Caso contrário, reduz a quantidade de pessoas que verão aquele conteúdo, partindo do princípio de que os novos seguidores provavelmente não estarão interessados. No entanto, ao fazer isso, o algoritmo parece não distinguir os inscritos novos dos antigos, prejudicando assim o criador.

Vi amigos próximos caírem nessa armadilha: postaram um conteúdo que fez sucesso, replicaram o tema à exaustão e, hoje, se veem presos a algo que não gostam pelo simples fato de estarem ganhando dinheiro com isso. Criaram um público em torno do tema e mudar de assunto ou parar de produzir simplesmente coloca em risco sua credibilidade e sua vida financeira. Muitos, para contornar essa situação, acabam criando canais secundários, buscando liberdade para se expressar e criar como realmente desejam.

Você pode estar pensando: “Mas isso não é igual a qualquer emprego? Não basta ganhar dinheiro?”. E eu te pergunto: foi por isso que você decidiu trabalhar com criatividade?

Criativos e artistas têm em comum a habilidade de transformar ideias em algo concreto – seja uma escultura ou um vídeo de gatinho soltando raios laser pelos olhos. Mas, para isso, ambos precisam de referências, estudo na arte que querem exercer e, principalmente, motivação para seguir criando, mesmo nos dias difíceis. Tanto criativos quanto artistas vivem com base nos seus resultados e, sobretudo, no tamanho do público que atingem com suas obras. Isso significa que um dia sem trabalhar pode ser a diferença entre conseguir pedir uma pizza no fim do mês ou pagar o aluguel.

E os criadores de conteúdo milionários?

Segundo dados da YOUPIX, apenas 0,54% dos criadores de conteúdo ganham mais de 100 mil reais. A grande maioria recebe entre 2 mil e 5 mil, um valor relativamente bom. Porém, considerando que no início o criador concilia provavelmente a sua produção com outra atividade e que leva, em média, de 1 a 4 anos para começar a ganhar dinheiro, o cenário pode parecer desafiador e cansativo, sobretudo quando o “algoritmo” entra em jogo.

Apesar dos desafios, eu não escolheria outra vida.

Recentemente, meu canal no YouTube atingiu a marca de 4 mil inscritos, resultado de uma jornada iniciada em 2020, durante um período de tédio na pandemia. Desde então, consegui cobrir festivais importantes de cinema, estreias de filmes nacionais e internacionais e conhecer pessoas incríveis, tudo graças à minha criatividade. Mas e agora?

E essa é uma pergunta real: eu não faço ideia do que fazer.

Parte de mim gostaria de fazer uma pausa, mas isso prejudicaria o canal e tudo o que construí até agora. Outra parte quer investir em algo novo, mas o medo do fracasso é apavorante. No entanto, esse é o lado interessante de trabalhar com criatividade: muitas vezes, o que precisamos é justamente desses momentos de angústia, porque, por algum motivo, a dor gera resultados criativos. Eu não sei quais serão os próximos passos do meu canal no YouTube, no Instagram ou no site, mas tenho certeza de uma coisa: terá uma parte da minha mente envolvida, e será divertido criar.

Mas e você, já pensou em se tornar um criador de conteúdo?

Hugo Montaldi

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